Estudo de coorte que analisou adultos estadunidenses com permissão para uso de Cannabis medicinal não encontrou diferenças na ativação cerebral após um ano de uso da substância. Também não foram observadas associações desses aspectos com a frequência de consumo, sugerindo poucos impactos neurais de longo prazo em memória de trabalho, recompensa e controle inibitório.
Metodologia
- Os participantes foram recrutados entre julho 2017 e 2020; todos tinham entre 18 a 65 anos e estavam buscando a permissão de compra para Cannabis medicinal (CCM) pela primeira vez para tratar transtornos depressivo e de ansiedade, dor ou insônia.
- Foram excluídos indivíduos que faziam uso diário de Cannabis e os que tinham diagnóstico de transtorno por uso de Cannabis, câncer, psicose ou outros transtornos por uso de substâncias (exceto uso leve/moderado de álcool e nicotina).
- Os participantes foram randomizados para obter a CCM imediatamente ou após 12 semanas. Somente o grupo que obteve a permissão imediatamente fez ressonância magnética funcional (fMRI) no início do estudo e após um ano.
- Foi coletada fMRI de 70 participantes que faziam uso de Cannabis para fins medicinais e 32 participantes hígidos do grupo controle.
- Foram coletadas informações como sexo, idade, raça, etnia, anos de escolaridade, sintoma primário que motivou a busca por Cannabis medicinal e dominância manual. As opções de raça foram indígena estadunidense ou nativo do Alasca; negro ou afro-americano; asiático; nativo do Havaí ou de outras ilhas do Pacífico; e branco. Para etnia, as opções foram hispânico ou não hispânico.
- O uso de Cannabis foi avaliado em vários momentos (após 2, 4, 12, 24 e 52 semanas) por meio de questionário revisado de identificação de transtorno por uso de Cannabis e exames de urina para metabólitos de Cannabis.
- Ao todo, o estudo incluiu dados de imagem cerebral coletados de 70 participantes do grupo com CCM e de 32 controles. Apenas 41 participantes do grupo CCM fizeram a fRMI ao início do estudo e após um ano.
- A fMRI permitiu a análise de aspectos ligados a realização de tarefas de memória de trabalho (N-back), processamento de recompensa (MID) e controle inibitório (SST).
- Análises estatísticas usaram modelos de regressão linear, comparando grupos e mudanças ao longo do tempo, controlando por idade, sexo e frequência de uso de Cannabis.
Principais informações
- Em uma comparação entre participantes do grupo CCM que realizaram um ou dois exames e o grupo controle, não houve diferenças significativas nos indicadores avaliados.
- Em relação à tarefa de memória de trabalho (N-back), na avaliação basal, antes do tratamento com Cannabis, não houve diferenças significativas em precisão ou tempo de reação entre participantes controle e MCC.
- Após um ano de tratamento, os participantes MCC apresentaram menor tempo de reação médio (540 ms) em comparação com o início do estudo (582 ms). A ativação nas regiões corticais pré-frontal e parietal foi observada comparando 2-back e 0-back em todos os grupos.
- Participantes CCM tiveram maior ativação nos gânglios basais no contraste de alta recompensa, em comparação com a primeira avaliação.
- A ativação nos gânglios basais durante o contraste de recompensa versus falta de recompensa, mas desativação observada em outros contrastes, foi significativa apenas no contraste de alta perda vs. acerto neutro.
- Durante o contraste de feedback de recompensa vs. perda de recompensa, observou-se ativação nos gânglios basais bilaterais.
- Nos outros contrastes de feedback, houve desativação nos gânglios basais e na ínsula, sendo significativa apenas no contraste de alta perda vs. acerto neutro.
- Não foram encontradas diferenças significativas na ativação entre os grupos no início do estudo ou antes e após o tratamento no grupo MCC.
- Também não houve associações significativas entre a ativação cerebral e o uso de Cannabis no grupo MCC após um ano.
- No início do estudo, os participantes do grupo controle apresentaram um tempo de reação significativamente menor (259 ms) em comparação aos participantes MCC (276 ms), o que indica melhor controle inibitório no grupo controle.
- Houve uma redução não significativa no tempo de reação do grupo MCC ao longo de um ano, de 276 ms para 264 ms.
- Todos os grupos tiveram ativação em regiões relacionadas ao controle inibitório, sem diferenças significativas entre grupos ou tempos para o grupo MCC.
Fonte: Medscape